sábado, 29 de janeiro de 2011

Escola Escolinha - a inclusão

O ensino diferenciado facilita a inclusão na escola
          
 A massificação das escolas é hoje uma realidade no nosso país, factor que provoca alguns problemas que nos são comuns, estando alguns deles relacionados com a crescente diversidade cultural, social e linguística dos alunos, resultante da mobilidade de pessoas na Comunidade Europeia, do aumento da migração e crescimento de refugiados.

Hoje em dia fala-se muito em grupos considerados desfavorecidos e, por associação, em alunos com baixo rendimento escolar, com limitações de oportunidades de sucesso académico.
Considera-se que este baixo rendimento escolar pode derivar de dificuldades intrínsecas ao aluno, do seu nível sócio-económico, etnia, migrações, desconhecimento da língua, isolamento e até de opções religiosas.

Contudo, apesar da educação protagonizar a igualdade de oportunidades, e de todos serem iguais perante a lei, as desigualdades existem. São do conhecimento de todos nós as práticas de selecção social que a própria escola produz: as crianças de minorias étnicas e as crianças pertencentes a grupos minoritários são tratadas de forma diferente.

Podemos olhar esta questão de duas formas: ou ignoramos a vitalidade e a força das culturas minoritárias obrigando, deste modo, os alunos a uma integração rápida e forçada na nossa cultura; ou criamos um currículo intercultural, que sem pôr em causa ou menosprezar a nossa cultura, dê voz às expressões das culturas minoritárias.

Tendo presente que o currículo considera os conhecimentos, atitudes e valores de uma sociedade e, por conseguinte, está mais ajustado às características e possibilidades dos alunos integrados na cultura dominante dessa sociedade, é necessário que a escola tenha por pressuposto a natureza multiétnica e as culturas representadas na escola e na sociedade, na elaboração do seu projecto curricular, adequando o currículo formal à diversidade dos alunos, promovendo a compreensão e o respeito entre alunos de diversas origens étnicas, eliminando formas de desigualdade e discriminação, como preconiza a própria Reorganização Curricular.

Cabe aos professores, no âmbito da liberdade que detém de gestão do currículo, fazer a escolha de objectivos, conteúdos e metodologias mais ou menos representativas da diversidade cultural existente na sociedade, criando um  ambiente  favorável  à  aprendizagem  na escola, onde os alunos, trabalhando em conjunto uns com os outros e com o professor, se empenhem em tarefas escolares e se sintam bem.

“ Não basta dizer que os alunos são diferentes. 


É necessário analisar as razões por que as diferenças se transformam rapidamente em desigualdades. 


Tratá-los como iguais é transformar as suas diferenças em desigualdades de aprendizagem.”  
Philippe Perrenoud

(“Igualdade e Diferença numa Escola para Todos. Contextos, Controvérsias, perspectivas”, Univ. Lusófona, Março, 2001),  
citado por Fátima Meireles in “Desigualdade ou Diferenciação”.

Interessa não esquecer que a importância da escola no combate às desigualdades advém do sucesso escolar e do seu papel na transmissão de valores democráticos:


  «Os  meios  mais  capazes  para  combater  as  atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; 


Para além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo.»

                                                               Declaração de Salamanca (1994)

Grinalda Com Filtros De Café

Uma outra ideia utilizando os mesmos filtros de café, que resolvi publicar...

Grinalda de Filtro de Café

Eu vi um adorável café de filtro coroa de flores em um blog,http://thelittlebrownhouse.us/2010/04/08/frugal-friday-coffee-wreath/ e decidiu colocar a minha própria rotação sobre ele. Acho que isso é adorável, mas eu queria uma guirlanda mais completa. Dobrei a filtros de café nos quartos, coloque três filtros em conjunto, e acompanha-los à espuma usando uma coroa de alfinete.Eu tentei o em forma de u pinos, mas que era uma nave falhar, com certeza. Os filtros de café caiu. O pino funciona muito melhor. Depois que os filtros apertados, eu fluffed-los. 
Eu adicionei uma fita, antes de completar a coroa, então foi muito bem escondida pelos filtros. Minha parte favorita da coroa é a flor rosetas. Eu estarei fazendo um tutorial sobre como fazê-los em breve. Acredite, eu não sou costureira. Esses foram fáceis e são adoráveis! Eu acho que o resultado final é maravilhoso!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

IMAGENS FANTÁSTICAS


Nem dá para acreditar....
Só vendo...



O desespero de um pai...





Há quem diga que.... "as mulheres já nascem assim..."
Falam por vinte....
Falam pelos cotovelos....
Falam e nunca mais se calam....
Será..... assim....

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As "Bobagens" de um ALENTEJANO

Presente de Natal Alentejano


- Estouuuu... é da GNR?
- É sim, em que posso ajudá-lo?
- Queria fazer quexa do mê vizinho Maneli. Ele esconde droga dos troncos da madeira para a larera...

- Tomámos nota. Muito obrigado por nos ter avisado.
No dia seguinte os guardas da GNR estavam em casa do Manel. Procuraram o sítio onde ele guardava a lenha, e usando machados abriram ao meio todos os toros que lá havia, mas não encontraram droga nenhuma. Praguejaram e foram-se embora.
Logo de seguida toca o telefone em casa do Manel. 
- Oh  Maneli, já aí foram os tipos da GNR?
- Já.
- E racharam-te a lenha toda?
- Sim
- Então 
feliz natal, amigo! Esse foi o mê presente deste ano!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O "novo" acordo ortográfico


Um cê a mais

Manuel Halpern

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo?  Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

História do Bolo-rei

O Bolo-rei está repleto de simbologia. Não é por acaso que tem forma de coroa e brilho nas suas frutas cristalizadas. Reza a lenda que este doce representa os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus aquando do seu nascimento.

A côdea simbolizava o ouro, as frutas secas e cristalizadas representavam a mirra e o aroma do bolo assinalava o incenso.

Ainda na base do imaginário, a existência duma fava também tem a sua explicação: quando os Reis Magos viram a Estrela de Belém que anunciava o nascimento de Cristo, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a entregar ao menino os presentes que levavam. Como não conseguiram chegar a um acordo e com vista a acabar com a discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no interior da massa uma fava. De seguida, cada um dos três Magos do Oriente pegaria numa fatia. O Rei Mago que tivesse a sorte de retirar a fatia contendo a fava seria o que ganharia o direito de entregar em primeiro lugar os presentes a Jesus.

O dilema ficou solucionado, embora não se saiba se foi Gaspar, Baltazar ou Belchior o feliz contemplado. É claro que isto é só uma lenda, historicamente falando, a versão é bem diferente.

Aproveitando um inocente jogo de crianças, os Romanos inseriram a sua prática nos banquetes durante os quais se procedia à eleição do rei da festa, que consistia em escolher entre si um rei tirando-o à sorte com favas, por isso designado por vezes também rei da fava.

A Igreja Católica aproveitou o facto de aquele jogo ser característica do mês de Dezembro e decidiu relacioná-lo com a Natividade e com a Epifania, ou seja, com os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro.

A influência da Igreja na Idade Média determinou que esta última data fosse designada por Dia de Reis e simbolizada por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece.

Havia ainda a tradição de que os cristãos deveriam comer 12 Bolos-reis, entre o Natal e o Dia de Reis, festa que muito cedo começou a ser celebrada na corte dos reis de França. O Bolo-rei terá, aliás, surgido neste país no tempo de Luís XIV para as festas do Ano Novo e Dia de Reis. Vários escritores da época escreveram sobre esta iguaria, até mesmo Greuze celebrou-o num famoso quadro, com o nome de Gâteau dês Róis.


Com a Revolução Francesa, em 1789, este bolo foi proibido, “como mais tarde iria acontecer em Portugal”, só que os pasteleiros que tinham um excelente negócio em mãos em vez de o eliminarem decidiram continuar a confeccioná-lo chamando-lhe Gâteau dês Sans-cullotes.

Com isto, parece não haver dúvidas que o Bolo Rei tem verdadeiras origens francesas, apesar do Bolo Rei popularizado em Portugal no século passado não ter a ver com o bolo simbólico da festa dos reis existente na maior parte das províncias francesas a norte do rio Loire, na região de Paris, onde o bolo é uma rodela de massa folhada recheada de creme.

O nosso Bolo-rei segue a receita a sul de Loire, um bolo em forma de coroa feito de massa lêveda. Acrescenta-se que ambos os bolos continham uma fava simbólica, podendo ser um objecto de porcelana. Tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu Bolo-rei em Portugal foi em Lisboa na Confeitaria Nacional, por volta do ano de 1870, bolo esse feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.

Durante a Quadra Natalícia a Confeitaria Nacional oferecia aos lisboetas uma exposição de tudo quanto de mais delicado e original a arte dos doces podia então produzir. A pouco e pouco, outras confeitarias também passaram a fabricá-lo o que deu origem a várias versões.

No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890, por iniciativa da Confeitaria Cascais, feito segundo receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.

Assim o Bolo-rei atravessou com êxito os reinados da rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D. Luís, D. Carlos e D. Manuel II. Vieram depois o Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano e a Revolução de 25 de Abril de 1974. Mas foi com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 que vieram os piores tempos para o Bolo Rei, ficando em risco a sua existência, tudo por causa da palavra “rei”, símbolo do poder supremo que numa lógica de hoje nos faz rir. Ora morto este símbolo, o bolo tinha que desaparecer ou mascarar-se para evitar a guerra que lhe podia ser feita. Os confeiteiros partiram do princípio de que negócio é negócio e política é política e continuaram a fabricar o bolo sob outra designação.
Os menos imaginativos deram-lhe o nome de “ex-bolo rei’, mas a maioria chamou-lhe bolo de Natal ou bolo de Ano Novo.

A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal e também por estar relacionado com o país o que ficava bem em período revolucionário.

Não contentes com nenhuma destas ideias, os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente e até houve quem lhe chamasse bolo Arriaga. Não se sabe como reagiu o Presidente da República, mas convenhamos que a homenagem não tivesse sido a melhor.

Passado esse período negro, a história deste bolo tem sido um sucesso.

A receita do Bolo-rei correu mundo, muito contribui para isso a fama que o bolo ganhou por proporcionar expectativa a quem comesse a fatia que continha a fava ou o brinde. A fava amaldiçoada pelos sacerdotes Egípcios que a viam como alojamento para os espíritos é considerado o elemento negativo, representando uma espécie de azar, tendo quem a encontra duas opções: assumir o pagamento do próximo bolo ou correr perigo de engoli-la.

Por sua vez, o brinde era colocado no bolo com o objectivo de presentear os convidados com quem se partilhava o bolo. Havia quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas complicadas por sinal, mas cuja recompensa seria meia libra de ouro.

Porém outros incluíam propositadamente as moedas de ouro na massa, por uma forma requintada de agradecimento, como se o próprio bolo não chegasse. Infelizmente, com o passar do tempo, o brinde passou a ser um pequeno objecto metálico sem outro valor que não o do símbolo e pouco evidente para a maioria das pessoas. Como não bastasse, as leis comunitárias ditaram o fim da tradição, proibindo que no interior do bolo se encontre uma fava ou um brinde.

Mesmo assim, o Bolo-rei continua a ser um símbolo da época Natalícia e hoje os confeiteiros e pasteleiros não se poupam a esforços na sua promoção, por isso se enchem de clientes para adquirir o rei das iguarias nesta quadra festiva.

O Bolo-rei não se limita a ser um bolo com gosto agradável, ele é na verdade um verdadeiro símbolo desta época!

Teresa HenriquesCake & Chocolate Designer nas Caldas da Rainha
in Jornal das Caldas online

AS JANEIRAS DA MINHA INFÂNCIA

Lembro perfeitamente, os tempos em que eu, o meu irmão, vizinhos e amigos, cantávamos as janeiras de porta em porta.
Tradições que se vão perdendo através dos tempos. Fica somente a saudade desses tempos, com noites frias, geladas... Mas um coração quente de meninos/crianças, de alegrias e risos, de cantigas em vozes pouco afinadas, mas que se divertiam...

Aqui ficam alguns exemplos dessas quadras cantadas ao luar, num tremo-lo ranger de dentes do frio da noite em terras da "Beira Serra":


Boas noites, meus senhores,
Boas noites vimos dar,
Vimos pedir as Janeiras,
Se no-las quiserem dar.

Ano Novo, Ano Novo
Ano Novo, melhor ano,
Vimos cantar as Janeiras,
Como é de lei cada ano.

Vinde-nos dar as Janeiras,
Se no-las houverdes de dar,
Somos romeiros de longe,
Não podemos cá voltar.

Aqui vimos, aqui vimos
Aqui vimos bem sabeis
Vimos dar as boas festas
E também cantar os Reis.

Nós somos as criancinhas
Que pedimos a cantar
Pedimos as Janeirinhas
E bênção p'ra este lar.

Levante-se daí senhora
Desse banco de cortiça
Venha nos dar as Janeiras
Uma morcela ou chouriça.

Levante-se daí senhora
Desse banquinho de prata
Venha nos dar as Janeiras
Que está um frio que mata.

Quem diremos nós que viva
Na folhinha da giesta
Já lhe cantámos as Janeiras
Acabou a nossa festa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

OS TRÊS REIS MAGOS


Num país distante viviam três homens que estudavam as estrelas e o céu. Um dia viram uma nova estrela muito mais brilhante que as restantes e souberam que algo especial tinha acontecido. Que nascera um novo rei e foram até ele.
Os três Reis Magos: Gaspar, Melchior e Baltazar, levavam presentes e seguiam a estrela que os guiava até chegarem à cidade de Jerusalém.  Aí perguntaram pelo Rei dos Judeus, pois tinham visto a estrela no céu.

Quando o rei Herodes soube que estrangeiros procuravam uma criança, a quem chamavam de rei, ficou zangado e com medo. Os romanos tinham-no feito rei a ele, e agora diziam-lhe que outro rei, mais poderoso, tinha nascido!
Então, Herodes reuniu-se com os três Reis Magos e pediu-lhes para o informarem, quando encontrassem essa criança, para ele também a ir adorar.

Os Reis Magos concordaram e partiram, seguindo de novo a estrela, até que ela parou. Então, eles souberam que Jesus o Messias, estava ali.
Ao verem Jesus, ajoelharam-se e ofereceram-lhe o que tinham trazido: ouro, incenso e mirra. De seguida partiram.

Mas à noite, quando pararam para dormir, os três reis magos tiveram um sonho, onde lhes apareceu um anjo, a avisar que o Rei Herodes planeava matar Jesus. 
De manhã, carregaram os camelos e já não foram até Jerusalém. Então regressaram à sua terra por outro caminho.

José também teve um sonho. Um anjo disse-lhe que Jesus corria perigo e que ele devia levar Maria e o Menino para o Egipto, onde estariam em segurança. José acordou Maria, prepararam tudo e partiram ainda nessa noite.

Quando Herodes soube que fora enganado pelos reis magos, ficou furioso. Tinha medo que este novo rei lhe tomasse o trono. Então, ordenou aos soldados para irem a Belém e matarem todos os meninos com menos de dois anos. E eles assim fizeram.Maria e José chegaram bem ao Egipto, onde passaram a viver sem problemas. 

Mais tarde e passado muito tempo depois, José teve outro sonho. 
Neste sonho um anjo disse-lhe que Herodes morrera e que agora era altura de regressar com a família a Nazaré onde era a sua terra, onde deviam construir o seu novo lar e onde Jesus devia crescer.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A história do peru na ceia de Natal

A história do peru na ceia de Natal


Entre os astecas, a prática do canibalismo era habitual. O Estado asteca fazia a guerra para se alimentar dos prisioneiros, num ritual prévio onde ao Deus Sol eram oferecidos sacrifícios humanos. Mas a dieta não ficava exclusiva à carne humana. Eles também se alimentavam de animais possíveis de serem encontrados nos seus domínios: os cães e os perus. Os perus eram criados pelos índios, atividade bastante antiga, com clima propício para a prosperidade desta criação. Geralmente os astecas cozinhavam o peru acompanhado de cebola, alho-poró e molho à base de pimenta vermelha.
Em 1518, quando do início do contato entre os índios e espanhóis no processo colonizador do México, F. Cortez tomou conhecimento do peru como ave para alimentação exposta no mercado de Tenochtitlán, capital asteca, trazendo, após, alguns exemplares para a Europa. O peru também vivia em estado selvagem nos bosques do Canadá. Foi ao longo do século XVI que a Europa descobriu essa ave, um pouco estranha, que foi chamada de "galinha da Índia", pois muita gente ainda confundia a América com as Índias Ocidentais. Os jesuítas a introduziram como prato em seus colégios religiosos. A Inglaterra tomou conhecimento da ave em 1525, sendo que rapidamente constituiu-se no prato principal da ceia de natal entre alguns países europeus, e somente após na América do Norte. Para Brillat Savarin, o peru foi um dos mais belos presentes que o Novo Mundo ofereceu ao velho Continente. Em meados do século XIX o peru, praticamente, substituiu o cisne como ave de natal na Inglaterra, popularizando-se definitivamente.
A introdução e fixação do peru como prato principal na Europa e nas Américas, incluindo o Brasil, na comemoração do nascimento de Cristo, transformou o ritual do jantar de Natal em ceia. A abundância, e mesmo a extravagância, caracterizam a essência do momento da ceia de Natal, pois este ritual passou a ser entendido como expressão simbólica do sucesso frente aos ditames da vida cotidiana ao longo do ano. No Brasil, dependendo das disposições financeiras das famílias esta ceia, além do peru assado, pode comportar diversos outros pratos como salpicão, outras saladas, ostras, arroz à grega, pernil de porco, frutas, panetone, castanhas, nozes, bolos.

No sentido da ceia como festa, o prato principal deve ser o assado pois, segundo Levi-Strauss, de acordo com as nossas convenções sempre que o menu inclui um prato de carne assada ser-lhe-á conferido um lugar de honra no centro da refeição. Portanto, num momento de demonstração de abundância, e mesmo de desperdício, o assado recebe um status superior em relação ao cozido. Na obra "O Triangulo Culinário", Strauss revela que do contraste entre os estados assado e cozido emergem características universais: no cozimento se conserva a carne e seus sucos, ao passo que o assado constitui um processo de destruição e perda. Assim um denota economia; o outro prodigalidade; o assado é aristocrático, o cozido é plebeu! Desta forma, os estados dos alimentos são apropriados para usos e abusos como símbolo de diferenciação social.
Em alguns lares, o chefe da família é convocado para trinchar o peru assado e dividi-lo entre os presentes. E neste ritual prevalece a hierarquia entre os convidados bem como as deferências, pois as ofertas das partes do peru, e mesmo de outros assados, eram graduadas segundo a posição social dos convidados:

1. Ao convidado mais ilustre, o dono da casa dizia: "Caro Sr. ...poderia eu ter a ousadia de lhe oferecer uma parte do perú?";
2. Ao segundo convidado em dignidade, dizia "O Sr. teria a gentileza de aceitar um pedaço de peru?";
3. Ao terceiro convidado na hierarquia à mesa, o dono da casa perguntava: "O Sr. quer peru?";
4. Ao quarto na hierarquia oferecia:"um pouco de peru?";
5. enfim ao quinto perguntava, com um pequeno aceno com a faca, "peru?".

Ainda no final do século XIX este ritual incluía a arte de amolar a faca; o trinchamento competente da ave pelo chefe de família, sentado ou levantado; as perguntas usuais sobre as partes que se deseja saborear e a oferta do molho. Esta cerimônia de trinchar a carne do peru é cada vez menos usual, mas ainda se mantém na Inglaterra. 

No Brasil, além do prato, o peru tornou-se bastante popular como o número 20 no jogo do bicho, e como tema de música de carnaval. Como comida, principalmente na área rural que é o prodígio da memória gustativa, é considerado rei das festas, de acordo com Rachel de Queiroz, recebendo, antes do abate, um tratamento previamente estabelecido: uma ave nova, no seu tamanho máximo de crescimento, papo amplo, coxa grossa, muita carne de peito e em quantidade suficiente para o número de convivas. Após colocado no quintal era-lhe preparado o porre de véspera da ceia de natal. O seu bico era aberto e despejado dois tragos de pinga goela baixo. Estas medidas eram suficientes para amolecer a carne, largar os músculos e desabar no chão. Um outro método era abrir a goela do peru e enfiar forçosamente punhados e punhados de milho, no sentido de inchar a ave para ser mais facilmente digerida. Daí diretamente para o forno, cujo assado torna-se o prato principal da ceia de Natal bem brasileira. Segundo Nina Horta, em meados dos anos 50, a tradição de comidas bem brasileiras foi rompida. Influenciada pela cozinha americana, a nossa ceia de Natal começou a desprezar a farofa, sendo que o peru e o pernil aparecem guarnecidos com frutas frescas, compotas, doces de figos, pêssegos e abacaxis. 

As histórias da comida revelam os tempos da memória gustativa, onde a gastronomia deixa a cozinha e invade a academia, com dissertações de mestrado e teses de doutorado abordando cada vez mais o tema. Falar de comida deixou de ser um apanágio exclusivo das donas de casa ou de chefs de restaurantes. As receitas culinárias, os livros de receitas e os relatos empíricos constituem importantes fontes históricas, em projetos de pesquisa multi e interdisciplinares. 


Autor: *¹ Prof. Carlos Roberto Antunes dos Santos – UFPRPublicado em: Gazeta do Povo, 24 de dezembro de 2004 

*¹ Carlos Roberto Antunes dos Santos é professor Titular de História do Brasil na UFPR, área de História da Alimentação.
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